segunda-feira, 24 de agosto de 2015

A Tempestade, com direção de Gabriel Villela, é poesia, magia e encantamento! Imperdível!




A delicadeza na forma de teatro


Por Nanda Rovere

Obs: Todas as fotos são de João Caldas/Divulgação

O diretor Gabriel Villela carrega o desejo de montar A Tempestade, última peça escrita por William Shakespeare, há um bom tempo e as condições surgiram no tempo exato porque ele demonstra muita maturidade como profissional.

A maestria desse trabalho se deve a um conjunto de profissionais: o talento ímpar e sensibilidade do Gabriel é indiscutível, mas também é preciso citar a competência da produção, dirigida pelo Claudio Fontana, do elenco e de toda a equipe.

Villela coloca a história num picadeiro, cheio de poesia. A trama mistura amor, vingança, manipulação, magia, conspirações e perdão.

No elenco estão Celso Frateschi, Helio Cicero, Chico Carvalho, Letícia Medella, Romis Ferreira, Dagoberto Feliz, Marco Furlan, Rogerio Romera, Leonardo Ventura, Felipe Brum e Rodrigo Audi. Reunião de excelentes atores, que se encaixam perfeitamente na estética de Villela.



A ação acontece numa ilha desconhecida. Lá, Próspero (Celso Frateschi) planeja o retorno ao poder através de um plano de vingança. Ele e sua filha foram levados para o lugar à força devido a traições políticas. Próspero tem a seu serviço Caliban, monstro e escravo, e Ariel, espírito servil e assexuado que pode se metamorfosear em ar ou fogo.





Próspero tem poderes extra naturais, pois se dedica ao estudo da magia. Através de manipulações, idealiza o seguinte plano: invoca, com a ajuda de Caliban e Ariel, uma forte tempestade, para que ela leve para a ilha o seu irmão Antonio, que roubou-lhe a posição de duque e para isso contou com a ajuda do seu parceiro, Alonso, rei de Nápoles. O seu plano dá certo e chegam na ilha Antonio, Alonso e o seu filho Ferdinando, que acaba se apaixonando por Miranda.



Cenário, adereços, objetos de cena, luz, trilha e figurinos contribuem para que a arena se transforme num picadeiro, onde emana pura magia, com uma trilha sonora que merece atenção especial porque ajuda a transportar a história para uma ilha que pode estar localizada em qualquer lugar do mundo, inclusive no Brasil, Minas Gerais, ou mesmo na nossa imaginação.

Em cena, vemos o encontro entre o céu e o mar, provocando uma tempestade de sensações. A terra e o barro nos fazem mergulhar num mundo em que tudo é possível.

Nas montagens de Villela, e também no caso desse trabalho, a voz dos atores é instrumento de extrema importância. A trilha é tocada e cantada ao vivo pelo excelente elenco.

Para a criação dos personagens e execução das cenas, os atores contaram com a ajuda da italiana, Antropóloga e pesquisadora da voz Francesca Della Monica, parceira de Villela em diversos trabalhos.

Para a preparação vocal e da direção dos textos, o diretor contou com a também parceira de longa data, Babaya, que também cuidou dos arranjos vocais, e com Marco França, do grupo Clowns de Shakespeare, responsável pelos arranjos instrumentais, junto com Babaya. A dupla assina também assina a direção musical, num trabalho de muita qualidade.



Potes de cerâmica achados em antiquários servem para reproduzir a voz humana na acústica grega. A fala dos atores nesses objetos contribuem para ressaltar o caráter mítico da montagem.

A presença desses profissionais faz muita diferença na qualidade dos diálogos e na hora das canções. É possível entender perfeitamente o que o ator fala e a entonação da voz expressa com perfeição a emoção que a cena exige. Além disso, o canto é belo e faz com que a poesia da encenação ganhe mais força.

No repertório da peça estão canções populares brasileiras de domínio público, que falam dos nossos mares e rios. Além disso, algumas músicas foram escolhidas através de uma pesquisa musical feita por Babaya no CD Velho Chico.

Nas encenações de Villela, os cenários e os figurinos sempre chamam a atenção pela beleza. Além disso, são adequados porque ajudam a criar um clima onírico.



Os figurinos, em tons de terra, nos remetem ao barro, às nossas origens, e trazem como destaque os bordados assinados por Giovanna Vilela, os quais contribuem para que as roupas encantem pelo deslumbramento.

Já a cenografia, traz vários objetos míticos e de magia utilizados por Próspero, além de objetos que remetem a um navio naufragado.



Gabriel é mineiro de Carmo do Rio Claro, sul de Minas, cidade famosa pelos teares e com belas paisagens, e sempre tem como inspiração as belezas e a arte de sua terra natal. Galhos de árvores, que se transformam em cajado mágico e numa cobra, por exemplo, vieram do fundo das águas da represa de Carmo.

O diretor dá, portanto, asas à sua imaginação e criatividade, assinando um espetáculo que encanta pela plasticidade e pela qualidade do elenco, que dá vida aos personagens de modo desenvolto e interpreta as canções com maestria.

O ser humano está perdendo a capacidade de imaginar, ou pelo menos muita gente está, pois a correria do cotidiano não possibilita que deixemos as atividades práticas da vida para sonhar. 

Villela desperta no círculo/ilha/picadeiro/lugar encantado, o nosso olhar para o belo e os nossos sentidos para a emoção e sensibilidade, numa história essencial na atualidade porque a vingança se transforma em perdão, mostrando que respeitar e amar o próximo são as únicas maneiras de se garantir um mundo melhor.

O mundo está caótico, mas esses momentos mágicos, do teatro e de confraternização com pessoas queridas, mostram que ainda existe muita poesia no cotidiano. A vida da gente fica mais alegre.

Deleite:



Para quem assistiu ao também incrível Romeu e Julieta, dirigido pelo Gabriel, a cena de encontro, e paixão avassaladora, entre Miranda e Ferdinando promete causar um encantamento especial. Assim como Romeu e Julieta, os enamorados de A Tempestade se encontram com muita poesia e estão na ponta dos pés, ao som de Flor, Minha Flor, que depois do sucesso da montagem com o Galpão, se transformou numa canção emblemática do nosso teatro.

Colocar elementos de outros trabalhos nas suas novas realizações é uma característica de Villela que me encanta, Em cada montagem, elementos como malas e sombrinhas, assim como cenas e falas, ganham novos significados.

Mergulhar na montagem de A Tempestade, assinada por Gabriel Villela, é um encontro especial com a essência do fazer teatral, que está entre outras coisas, na relação transformadora que acontece após assistirmos a um espetáculo dessa qualidade.

A delicadeza dos detalhes, a mágica história, a interpretação dos atores (e todos os elementos cênicos) agem em uníssono para celebrar a arte e a vida!

Imperdível!

Ficha Técnica e Serviço:



Direção: Gabriel Villela.

Tradução: Marcos Daud.
Elenco: Celso Frateschi (Próspero). Helio Cicero (Caliban), Chico Carvalho (Ariel), Leticia Medella (Miranda), Dagoberto Feliz, Romis Ferreira, Marco Furlan, Rogerio Romera, Felipe Brum, Rodrigo Audi e Leonardo Ventura.







Figurino: Gabriel Villela e José Rosa.
Cenografia: Gabriel Villela e Márcio Vinicius.
Direção Musical: Babaya e Marco França.
Direção de texto e preparação vocal: Babaya.
Antropologia da Voz: Francesca Della Monica.
Iluminação: Wagner Freire.
Direção de Produção: Claudio Fontana.
Produção Executiva: Francisco Marques.
Realização: BF Produções.
Patrocínio: AB Concessões, Sul America Seguros e 2S Inovações Tecnológicas
Onde: Teatro Tucarena: Rua Monte Alegre, 1024 – Perdizes - telefone:(11) 3670-8453. Temporada: Sextas às 21h30, sábados às 21h00 e domingos às 19h00. Ingresso: R$ 50 (sex), R$ 50 e 70 (sáb e dom). Recomendado: 12 anos.. Até 22 de novembro. Duração: 90 min.
Visitem: Comunidade em homenagem ao Gabriel: https://www.facebook.com/groups/133795370015657/951140078281178/?notif_t=like
Fan Page A Tempestade: https://www.facebook.com/atempestade2015?fref=ts

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